A Doença de Alzheimer (DA), uma das principais causas de demência entre idosos, afeta a memória e a capacidade cognitiva de maneira progressiva.1 No entanto, mesmo com o avanço da doença, a música pode despertar emoções e reativar lembranças que pareciam perdidas.2
Você já se perguntou como a sua música favorita pode trazer de volta momentos especiais?
Para pessoas com Alzheimer, esse efeito é ainda mais significativo, isso porque, nosso cérebro está fortemente conectado às experiências sensoriais e às memórias.
Para aqueles que convivem com a doença, as associações musicais permanecem, mesmo quando outras áreas da memória são comprometidas2, sendo uma ferramenta poderosa de reconexão e alívio.
A musicoterapia pode promover uma melhora significativa nas interações sociais dos pacientes, auxiliando na expressão por meio da música e impactando positivamente suas esferas social, mental e emocional.3
Mas, antes de falarmos sobre a relação da música com essa condição, é essencial entender o que é a Doença de Alzheimer, seus sintomas, tratamentos, causas e formas de diagnóstico.
Continue lendo para entender mais sobre o assunto.
O que é a Doença de Alzheimer?
A Doença de Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que afeta principalmente a memória, a capacidade cognitiva, além do comprometimento progressivo das atividades diárias e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.1
No início, a pessoa com Mal de Alzheimer pode começar a esquecer coisas simples, como compromissos recentes ou onde deixou objetos. Com o tempo, esses lapsos de memória se agravam, e até atividades básicas do dia a dia, como tomar banho ou preparar uma refeição, passam a ser desafiadoras.1
Isso acontece porque, no cérebro, algumas proteínas começam a funcionar de maneira errada, formando partes tóxicas que prejudicam as células nervosas. Essas células ficam danificadas e começam a morrer, especialmente em áreas do cérebro responsáveis pela memória e pelo pensamento, como o hipocampo e o córtex cerebral.1
A Doença de Alzheimer é dividida em quatro fases: leve, moderada, grave e terminal.1 Nos estágios mais graves, o paciente pode perder completamente a autonomia e a capacidade de realizar tarefas diárias por conta própria passando a depender de outras pessoas para seus cuidados.4
Principais sintomas e tratamentos para a Doença de Alzheimer
O primeiro sintoma da Doença de Alzheimer, e o mais característico, é a perda de memória recente. Com a progressão da doença, vão aparecendo sintomas mais críticos como a perda de memória remota (ou seja, dos fatos mais antigos), irritabilidade, falhas na linguagem, prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no tempo.1
Entre os principais sinais e sintomas do Alzheimer estão1
- Falta de memória para acontecimentos recentes;
- Repetição da mesma pergunta várias vezes;
- Dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos;
- Incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;
- Dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos;
- Dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais;
- Irritabilidade, suspeição injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.
Ainda não existe cura para o Alzheimer, mas os tratamentos, que são realizados de forma multidisciplinar, têm como objetivo desacelerar o avanço dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.3 O tratamento medicamentoso ajuda a estabilizar as dificuldades relacionadas à memória, ao comportamento e às atividades diárias dos pacientes.1
Causas da Doença de Alzheimer e como diagnosticar precocemente
A causa do Alzheimer ainda é desconhecida, mas acredita-se que seja geneticamente determinada.1
A Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas idosas. Ela é responsável por 50 a 70% dos casos de demência e é uma das principais causas de perda de funções cognitivas, como memória e pensamento, em indivíduos mais velhos.4,1
O diagnóstico é realizado por exclusão. O rastreamento inicial deve incluir a avaliação de depressão e exames laboratoriais, com especial atenção para a função da tireoide e os níveis de vitamina B12 no sangue.1
O médico responsável pelo diagnóstico pode ser um psiquiatra geriatra ou um neurologista especializado no tratamento da Doença de Alzheimer.1
Vale ressaltar que o diagnóstico precoce, juntamente com o tratamento adequado e no momento preciso, é essencial para aliviar os sintomas e estabilizar ou retardar a progressão da doença.
O impacto da música na vida de pacientes com Alzheimer
Diante da gravidade dos sintomas do Alzheimer, estudos mostram que a música pode desempenhar um papel fundamental no bem-estar dos pacientes.
A musicoterapia influencia positivamente as capacidades motoras, de reconhecimento e de linguagem, além de trabalhar a memória autobiográfica, que diz respeito a acontecimentos específicos da vida da pessoa.3
Quanto mais estimulamos o cérebro, mais conexões entre os neurônios se formam. Essas novas conexões ajudam o cérebro a lidar melhor com os danos e podem atrasar o aparecimento dos sinais de demência. Por isso, é importante manter o cérebro ativo de diferentes maneiras ao longo da vida, contribuindo para retardar o avanço da doença.1
A musicoterapia pode ser uma importante aliada, pois utiliza sons e melodias como parte do tratamento terapêutico. É uma técnica não invasiva e de baixo custo, que tem se mostrado eficaz na melhoria do humor, da memória e do comportamento de pessoas com Alzheimer.4,2
Quando aplicada corretamente, pode estimular áreas do cérebro responsáveis pela memória e pelas emoções. Isso ocorre porque as lembranças associadas à música, especialmente aquelas de canções ouvidas durante a juventude, demonstram maior resistência aos danos causados pela Doença de Alzheimer, permitindo que essas memórias e emoções sejam evocadas, mesmo em estágios avançados da doença.2
A importância da musicoterapia para pacientes com Alzheimer
Pesquisas demonstram que a musicoterapia é capaz de aumentar as conexões sociais entre quem tem Alzheimer e seus cuidadores, promovendo uma interação mais saudável e diminuindo os níveis de estresse de quem cuida e dos pacientes.2
Cerca de 80% dos cuidados com pessoas que têm Alzheimer são realizados por familiares, que assumem a responsabilidade de prover ou coordenar os recursos necessários.4
O declínio do paciente, aliado às suas demandas específicas, gera uma sobrecarga significativa para os cuidadores, resultando em sintomas como depressão, enfraquecimento do sistema imunológico e aumento de conflitos familiares.4
Nesse contexto, a musicoterapia desempenha um papel importante ao reduzir sintomas como agitação, ansiedade e comportamentos agressivos, que podem ser comuns em pessoas com Alzheimer.2
Ao criar um ambiente mais tranquilo e acolhedor, a música promove o bem-estar e facilita a comunicação, beneficiando tanto os pacientes quanto aqueles que os assistem, tornando o processo de acompanhamento mais leve e humanizado.2
Técnicas de musicoterapia para pacientes com Alzheimer
A musicoterapia é uma prática que pode ser aplicada de diferentes formas para auxiliar no tratamento de pessoas com Alzheimer.
Entre as abordagens mais comuns estão a técnica ativa e a técnica receptiva, cada uma com seus próprios benefícios e objetivos.3
Na técnica ativa, os pacientes participam de forma direta, seja cantando, dançando ou utilizando instrumentos musicais. Esta abordagem estimula a expressão emocional e promove a interação social, ajudando a melhorar o humor e o comportamento dos pacientes.
Já na técnica receptiva, o terapeuta utiliza músicas selecionadas de acordo com as preferências e a história de vida do paciente. Esta técnica busca evocar memórias e gerar respostas emocionais positivas, muitas vezes criando um ambiente relaxante e de bem-estar.
Conclusão
A Doença de Alzheimer, sendo uma das principais causas de demência em idosos, traz desafios progressivos para a memória, cognição e capacidade funcional dos pacientes.
Embora não exista cura, o diagnóstico precoce e os tratamentos multidisciplinares visam melhorar a qualidade de vida, desacelerando os sintomas.
Nesse cenário, a música se destaca como uma ferramenta poderosa. A musicoterapia, ao estimular o cérebro e ativar áreas ligadas às memórias e emoções, mostra-se eficaz em promover bem-estar, melhorar o humor, e auxiliar na interação social e comunicação.
Mesmo em estágios avançados da doença, a memória musical persiste, permitindo que os pacientes se reconectem com suas lembranças e emoções mais profundas.
Além de beneficiar os pacientes, a música também se torna uma aliada para os cuidadores, ajudando a reduzir o estresse e melhorar as interações diárias.
Por meio de abordagens ativas e receptivas, a musicoterapia contribui de forma significativa no tratamento do Alzheimer, proporcionando momentos de alívio, conexão e humanização tanto para os pacientes quanto para aqueles que os assistem.
FONTES:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Doença de Alzheimer. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/alzheimer#:~:text=A%20Doen%C3%A7a%20de%20Alzheimer%20(DA,neuropsiqui%C3%A1tricos%20e%20de%20altera%C3%A7%C3%B5es%20comportamentais . Acesso em: 9 set. 2024.
- FREEBORN, Jessica. Music therapy improves well-being in people with dementia and caregivers. Medical News Today, 3 set. 2022. Disponível em: https://www.medicalnewstoday.com/articles/music-therapy-improves-well-being-in-people-with-dementia-and-caregivers . Acesso em: 9 set. 2024.
- SOUSA, Amanda Nunes da Silva; SARAIVA, Mônica Silva; MACHADO, Thaísa Vittória Ribeiro; SOUZA, Júlio César Pinto de. A utilização da musicoterapia no tratamento de idosos diagnosticados com a doença de Alzheimer. Research, Society and Development, v. 10, n. 12, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/20010 . Acesso em: 9 set. 2024. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i12.20010 .
- CRUZ, Marília da Nova; HAMDAN, Amer Cavalheiro. O impacto da doença de Alzheimer no cuidador. Psicologia em Estudo, v. 13, n. 2, p. 255-261, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pe/a/FfkpRGDyG5QmgjfpXt5vfrk/# . Acesso em: 9 set. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-73722008000200004 .